Origem dos Ditos Populares

Waldeban Medeiros

“Agora Inês é Morta”!

É comum, diariamente, uma expressão popular ser pronunciada para ilustrar um trecho de uma conversa sem, no entanto, nos depararmos para saber sua origem. Esses tais ditos, que são chamados de “expressões populares”, nascem ao bel prazer dos acontecimentos e quase sempre são deturpadas por aquelas pessoas que as ouvem inicialmente e saem divulgando da melhor forma que lhes achar conveniente, surgindo daí uma fonte inesgotável do mais puro folclore sertanejo. Quem, por acaso, já escutou a expressão “agora Inês é morta” custa a acreditar que a mesma nasceu num foco completamente diferente do que se imagina, desde quando ela foi pronunciada pela primeira vez.

Conta o folclore que numa pequena cidade do sertão paraibano, Maria estava radiante com a sua gravidez de nove meses, depois de esperar quase três anos para ganhar barriga, coisa incomum para os padrões locais. Alegre, mas temerosa, agarrou-se com alma e fé em Santa Inês com a promessa de que, se o rebento fosse feminino, já que à época não havia ultrassom para determinar antecipadamente o sexo da criança, daria o nome da padroeira da pureza e da castidade.

Como por milagre, eis que nasce justamente uma linda e robusta criança. Movida pela alegria e contentamento, ela logo determinou ao marido, o Zé de Felismino, que fosse correndo ao Cartório registrar a filha com o nome de Inês, conforme a promessa:

 – Zé, preste atenção, o nome é Inês Felismino de Jesus, não esqueça!

Zé de Felismino vivia meio cabreiro com os comentários da vizinhança pela demora em fazer um filho e já tinha tomado umas-e-outras desde que a mulher havia entrado em trabalho de parto, saiu em disparada para realizar o desejo da mulher. Acontece que, no trajeto entre o sítio em que moravam e a cidade, havia nada menos do que três budegas, duas mercearias e quatro pequenos bares. Em todos esses estabelecimentos, ele contava a novidade do nascimento da filha, tomando em seguida uma nova talagada de cachaça.

Quando chegou ao Cartório de Chico de Tota, esbaforido e embriagado, tropeçou no batente, caindo de ponta-cabeça na parte da frente birô do Tabelião! Levantou-se meio sem graça, ajeitou o chapéu sem imaginar de que em consequência da pancada na cabeça, fora acometido de uma pré-amnésia por força do álcool ingerido, esquecendo completamente o nome que seria dado à filha. Ao sinal do primeiro nome que lhe subiu à cabeça, gritou pro tabelião:

– O nome é, é, é… Marta, Marta Felismino de Jesus, faça o favor, prepare o documento que to com pressa!

O Tabelião não contou conversa, registrando a criança com o nome dado pelo declarante, depois das perguntas de praxe sobre filiação, avós maternos e paternos, etc. De posse do documento, regressou pra casa numa passada só. Quando apresentou a certidão da criança a Maria, essa lhe deu uma tremenda bronca, chamando-o de bêbado irresponsável e coisa e tal, mandando que ele voltasse imediatamente ao Cartório para colocar o nome correto na certidão.

De volta ao Cartório, o Tabelião explicou que não poderia refazer o documento por questões legais e somente com autorização judicial seria possível consertar o engano, etc.

Irado, Zé de Felismino perdeu a paciência, esbravejou contra o cartoriante, lhe disse poucas-e-boas, quando escutou deste o veredicto final:

– Quer saber de uma coisa, meu senhor, agora Inês é MARTA e fim de papo!!!

Frustrado, sem entender coisíssima de nada, Zé de Maria voltou pra casa e foi logo dizendo pra mulher:

– Teve jeito não, o moço do Cartório ficou fulo comigo e disse que agora INÊS É MORTA!!!

ARTIGOS de VALDEBAN MEDEIROS

*Waldeban Medeiros, simplesmente um contador de “causos”… Escritor e psicólogo. Auditor Fiscal do Estado da Paraíba aposentado, tendo exercido o cargo de Coletor Estadual na cidade de Sousa nos anos 90/94, com título de cidadão sousense pela sua militância no futebol da cidade “sorriso”, tendo sido um dos fundadores da Liga Sousense de Futebol. medewal@gmail.com

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