João Francisco Neto
Nos últimos anos, o sucesso da Finlândia no campo educacional vem chamando a atenção do mundo todo. Grandes potências econômicas, como os Estados Unidos, voltaram seus olhos para esse pequeno país nórdico, que, seguidamente, tem alcançado os maiores índices nas avaliações internacionais, como o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), da OCDE. Isso nos leva a algumas considerações. Afinal, qual é o “segredo” do ótimo padrão de educação da Finlândia? Que lições o mundo pode aprender com o sistema educacional finlandês? Seria possível transpor a experiência da Finlândia para outros países? De plano, podemos afirmar que não há respostas prontas para esses questionamentos, embora muita coisa possa ser aproveitada a partir da bem sucedida experiência finlandesa. Os diversos estudos sobre o assunto mostram que um dos “segredos” da Finlândia é manter um quadro de professores altamente bem treinados, respeitados, motivados, bem remunerados e com ampla autonomia. Na Finlândia, a carreira de professor confere grande prestígio à pessoa (no Brasil, também já foi assim!) e o ingresso nas faculdades de licenciatura é muito disputado. Para se habilitar a docência, todos os alunos têm de fazer um mestrado, depois da graduação, inclusive para lecionar no curso primário. E mais, ainda: nesses cursos, os alunos participam de aulas práticas, a exemplo do que ocorre com estudantes de medicina, que praticam num hospital-escola.
Como se vê, outro “segredo” finlandês é o respeito e a valorização do ensino e da educação, em todos os níveis. O processo de seleção para ingresso nas faculdades é muito rigoroso, e aqui temos outra surpresa: nem sempre os candidatos que obtêm as maiores notas serão os selecionados. A experiência finlandesa vem demonstrando que os melhores e mais brilhantes alunos muitas vezes podem não ser os melhores professores; daí que o sistema de admissão procura identificar aqueles candidatos que reúnam as qualidades próprias para um bom mestre, como uma paixão natural para dedicar a vida ao magistério. Ao final, os escolhidos serão os candidatos que vejam na carreira de professor um objetivo de vida, com o qual estarão comprometidos. A ideia central disso reside no fato de que nenhum sistema educacional poderá ser melhor do que a qualidade de seus professores, de forma que, quando se pretende buscar a excelência na educação, antes de tudo, há que se ter professores de alto nível e verdadeiramente comprometidos com o propósito de ensinar bem. Por aí já se vê que a seleção de candidatos para os cursos de professor não é nada simples, pois envolve várias fases, todas com o objetivo de identificar as pessoas que mais demonstrarem a real aptidão para a docência. Esses alunos, repita-se, nem sempre serão os que obtiverem as melhores notas.
Nos anos de 1990, o funcionalismo público da Finlândia sofreu um desmonte, resultante da onda neoliberalista que se espalhou pelo mundo. Todavia, a área da educação passou imune a esse processo de enxugamento, e até hoje quase toda a educação é integrada por escolas públicas; apenas 2,5% são privadas. Em sentido contrário ao que ocorre em países como os Estados Unidos, a Suécia e a França, onde a educação pública encontra-se em crise, na Finlândia isso parece ser a garantia do sucesso. São escolas públicas em que os professores têm autonomia para criar e definir os currículos, ao mesmo tempo em que os alunos não são frequentemente submetidos a pressões e cansativas avaliações. Por fim, a pergunta que fica é: seria possível “exportar” o modelo finlandês para outros países? Impossível não é; mas é difícil. Cada país tem lá suas raízes históricas e culturais, além das questões políticas, que, em geral, em nada coincidem com a realidade finlandesa. O que nos resta, então, é aprender algumas lições e tentar adaptá-las à nossa realidade; e isso já seria um grande avanço. O assunto é instigante e quem tiver predisposto a saber mais sobre ele poderá consultar uma interessante obra de Pasi Sahlberh, pesquisador da Universidade Harvard, “Finnish Lessons: What Can the World Learn from Educational Change in Finland?”, de onde foi extraída grande parte das informações deste artigo.
* Agente Fiscal de Rendas, mestre e doutor em Direito Financeiro (Faculdade de Direito da USP)
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