Marina Silva é digna de governar o Brasil

A sociedade brasileira está cansada das velhas raposas, dos conchavos e arranjos escusos

Francisco das Chagas Barroso

Marina Silva é acreana, de Rio Branco. Conheço muito bem o estado do Acre, pois lá vivi por 12 anos, e ainda tenho familiares naquelas terras de Chico Mendes.  Esse pequeno estado da federação tem história de luta, de bravura, de derramamento de sangue.  Tem identidade própria.

Mas a política naqueles cantos, ainda na década de 80, era comandada por uma elite conservadora, advinda e saudosa do ciclo da borracha. Naqueles tempos, ricos seringalistas e fazendeiros ditavam as regras. Rasgavam as leis e a floresta sem piedade e negavam os mais comezinhos direitos aos trabalhadores rurais. Na verdade, nem se ouvia falar de direitos trabalhistas. Era uma escravidão branca tolerada.

Naquele ambiente propício às injustiças de toda a ordem, a jovem Marina Silva já atuava ao lado de Chico Mendes no Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

Pelo Partido dos Trabalhadores, Marina foi Vereadora, em 1.988, em Rio Branco. Deputada Estadual em 1.990 e Senadora, em 1.994, aos 36 anos e reeleita em 2002. Foi Ministra do meio ambiente no governo Lula, saindo em 2008, por dificuldades na implantação de sua agenda ambiental. Sua política ambiental se chocava com a política desenvolvimentista da poderosa ministra Dilma Roussef.

Magoada por ser preterida, diante da inclinação de Lula por Dilma – que desceu de paraquedas no PT – na sucessão presidencial, e coerente e fiel aos seus ideais, se desfiliou do partido em 2009.

Em 2010, filiada ao PV, disputou a presidência da república, pela primeira vez, obtendo quase 20 vinte milhões de votos.

Agora, em 2014, reaparece, após a morte de Eduardo Campos, impondo desespero aos concorrentes Dilma e Aécio.

Marina é detentora de vários prêmios internacionais, dentre os quais o mais importante, concedido pela ONU, Champions of the Earth (Campeões da Terra).

Ao contrário de outros dissidentes éticos do PT, como Hélio Bicudo, Heloísa Helena e outros fundadores do PT, que também foram alijados e deixados no meio do caminho pelo partido e pela força avassaladora e destruidora de oponentes chamada LULA,  Marina emerge no cenário político nacional, como um fenômeno bendito.

Mas o que mais impõe respeito é a sua fidelidade aos seus ideais, que diga-se, remetem aos ideais de Chico Mendes, na defesa do meio ambiente.

A coerência de Marina Silva impressiona, diante da realidade da política brasileira do “poder pelo poder”. Repudia, na prática, a velha tática de alianças espúrias, que alçam o candidato ao poder, mas, contaminam o governo.

A sociedade brasileira está cansada das velhas raposas, dos conchavos e arranjos escusos na política. Está cansada dos Calheiros, Malufs, Sarneys e Barbalhos, da vida.

A sociedade quer mudanças. O povo quer sair da prática sanguessuga do PMDB e da estreita opção PT x PSDB; do velho debate da herança maldita LULA x FHC, do repedido MENSALÃO DO PT x MENSALINHO MINEIRO, do batido ESCÂNDALO PETROBRÁS x ESCÂNDALO DOS METRÔS DE SP, etc.

Certamente, Marina é como uma bela chuva de verão, que veio para aplacar o desânimo dos que não acreditam mais na política.

Portanto, pela sua história, coerência e ética, Marina Silva é digna de governar o Brasil.

franchaba@bol.com.br

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6 Comentários to “Marina Silva é digna de governar o Brasil”

  1. Marina Silva teve uma trajetória política brilhante, mas perdeu-se na sua luta pelo meio ambiente, deixando-se influenciar por teorias sobre nosso meio ambiente na região amazônica, teorias vindas de fora que chocam com nossos interesses econômicos e de soberania. Não soube encontrar um meio de contornar os obstáculos que encontrou. Nas últimas eleições também não foi feliz nos contatos que fez, procurando alianças. Faltou-lhe assessoria para contornar a velha politicalha nacional, o nosso grande mal. Outro aspeto negativo nota-se em seus pronunciamentos que manifesta suas convicções religiosas.

  2. Ha que se respeitar a opinião do caro comentarista, mas, no mundo globalizado, no contexto ambiental, e, considerando-se a relevância dos fenômenos climáticos, a Amazônia (Brasil, Peru, Bolivia) há muito deixou de ser propriedades absolutas desses países. É inquestionável sua importância no ciclo oxigênio x carbono, umidade, etc. e suas consequencias para todos os habitantes da terra.
    Portanto, temos que cuidá-la e preservá-la, de preferência com desmatamento zero, mas já que não é possível, pelo menos um controle e um manejo sustentável, como queria Marina, quando era ministra. Contra tudo e todos, ela conseguiu na sua gestão reduzir a níveis toleráveis o desmatamento, que hoje, está fora de controle.

  3. O texto traça de forma sucinta a biografia de Marina, segundo a qual, demonstraria coerência em sua vida política. Ora, com todo respeito ao nobre colega articulista, que muito já nos orgulhou com suas posições firmes e elogiosas, peço vênia para discordar dessa vez.
    Justamente a biografia da candidata Marina é que demonstra infelizmente a sua grande incoerência, aliou-se ao PSB porque não foi capaz de fundar seu partido, apesar do forte apoio financeiro e logístico que teve de setores ultraconservadores, visando única e exclusivamente um projeto de Poder, qual seja, a busca pela presidência da República, ou melhor, aceitou sujeitar-se a ser vice na chapa de Eduardo Campos para tal fim. Após a ainda inexplicada tragédia com a morte deste, pois é um acidente muito suspeito (análise de Wayne Madsen: http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/08/marina-silva-george-soros-e-mais-um.html) em um avião que ainda não se sabe afinal por quem era cedido a campanha do PSB, passou a cabeça de chapa, aliada ao que há de pior na sociedade brasileira como banqueiros (Neca Setúbal: http://www.brasil247.com/pt/247/economia/150929/Neca-do-Ita%C3%BA-j%C3%A1-d%C3%A1-as-cartas-no-governo-Marina.htm) e empresários com histórico de sonegação (Natura por exemplo: http://www.campograndenews.com.br/economia/andre-diz-que-conseguiu-arrancar-rs-36-milhoes-em-icms-da-natura e http://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/2013/08/receita-autua-itau-em-r-187-bi-por-deixar-de-recolher-imposto-em-fusao.html) para o Brasil e, principalmente, para os servidores públicos, que certamente terão reflexos negativos em direitos previdenciários, no mínimo, sem falar na tal flexibilização da CLT que não atinge os servidores, porém estes setores têm por objetivo acabar com direitos trabalhistas consagrados no Brasil. A mera afirmação que o BC terá autonomia é muito preocupante e leva a debate inclusive sobre o valor da democracia, uma vez que o povo escolhe seu mandatário maior, o presidente da República, porém, após a indicação do presidente do BC, este ente mandará mais na economia do País do que aquele que o povo escolheu e, portanto, que teria muito mais legitimidade para qualquer decisão. O presidente de um BC com autonomia plena e, pior, com os apoios no setor que ela tem, já é possível vislumbrar o quão maléfica seria tal profunda alteração no sistema financeiro.
    Dessa forma, como estas pouquíssimas e mal traçadas linhas e, com a devida licença, ouso discordar do colega articulista, justamente para expor meu entendimento de que vejo na candidata Marina o suprassumo da incoerência e pior com possível governo que adotaria medidas terríveis para o País e principalmente para os servidores públicos devido à sua base de apoio.

    • Caro colega Sandro, para mim, a discordância, a contradição e até a subversão, além de serem os fundamentos da democracia, mais do que isso, são os motores da evolução da sociedade. Portanto, não se acanhe em discordar, nem de mim, nem de ninguém.
      Grande Abç.

  4. Parabéns pelo artigo ao nosso querido Barroso, que tive o prazer de conhecer pessoalmente no lançamento de seu livro, no Anhembi.
    Com relação ao artigo, o problema apontado pelo nosso prezado Sandro Couto, com o qual concordo, não está em saber se a candidata Marina Silva é ou não digna de governar o Brasil. O que precisamos saber é se ela tem “competência”, se tem “um bom projeto”, se as suas ideias econômicas, políticas e sociais são modernas, coerentes e se podem trazer mais desenvolvimento para o Brasil ou não, se vão afastar os investidores, se vão criar apagões, se vão inibir a produção.
    Não podemos esquecer que a Marina foi ministra e não funcionou muito bem, dificultou aprovações de projetos, e depois de sair do ministério atirando, tem opinado contra a construção de hidrelétricas, a favor da devolução de terras de arrozeiros a tribos indígenas, enfim, tem demonstrado que a sua prioridade não é lutar pela produção, pela floresta sustentável.
    Talvez no governo ela reveja algumas de suas posições, passe a entender que preservação ambiental boa é a economicamente sustentável, é a que substituir parte das áreas florestais improdutivas por áreas florestais produtivas. Um pé de pau que nada produz além de madeira pode ser substituído, sem nenhum dano florestal ou ecológico, por árvores frutíferas de médio e grande porte (mangueiras, laranjais, seringais, etc).
    Um vasto pomar produtivo traz muito mais benefícios ao meio-ambiente (sobretudo quando incluímos o homem como parte do meio ambiente, como usufruidor da floresta), do que uma mata virgem qualquer.
    Claro que devemos preservar nichos de mata virgem, claro que devemos preservar reservas indígenas, mas o reflorestamento criterioso, com desmatamento e plantio combinados, não pode ser visto como algo nocivo ao planeta, ruim para o país. O mundo desenvolvido inteiro fez isso e nem por isso o meio ambiente se deteriorou. Floresta produtiva é muito melhor do que floresta improdutiva, pois não deteriora o meio ambiente e produz para a humanidade.

    O que não convém é fazer o que certo errado partido vem fazendo há 20 anos em SP, matando rios com esgoto humano, cobrando pelo tratamento do esgoto, mas entregando esse esgoto in natura a rios fedentinos e depois dragando interminavelmente, isto sim é um crime ambiental e uma estupidez econômica. Em Paris se defeca tanto quanto (ou mais) do que em SP, e no entanto o Siena está sempre limpo, pois em cada uma de suas margens há canaletas que captam as redes de esgotos e os tratam antes de entregá-los ao rio. Assim também na Alemanha, na Inglaterra, em Roma, Praga, Lisboa, Bruges, Viena, enfim, no mundo civilizado se trata o meio ambiente com critério e inteligência, os rios são navegáveis e são atrações até turísticas. Aqui não, aqui jogamos dinheiro na latrina das dragagens intermináveis e inúteis.
    Mas não ouço a Marina — nem ninguém — falar disso. Vejo uma preocupação exacerbada com a Amazonia, uma espécie de ódio contra quem produz, contra o agricultor, contra a geração de energia, e uma falta tremenda de normas capazes de aceitar arrozais em margens de rios, de converter com legalidade e eficácia florestas improdutivas em produtivas, sustentáveis.
    Até agora confesso que não sei qual é o projeto que a candidata Marina tem para a ECONOMIA do Brasil, como pretende administrar as empresas públicas, os preços públicos, qual sistema tributário ela tem em mente (se é que tem algum).

    Por outro lado, bem sabemos que é impossível governar sem APOIO partidário, nada se aprova, os projetos emperram, o país para literalmente, e as intituições podem sentir muito com isso.

    Confesso que essa terceira via — ainda que digna, ainda que tenha se posicionado várias vezes a favor do funcionalismo (ao lado de Heloísa Helena, das Alagoas que tanto aprecio)— me assusta um pouco, me parece ainda meio verde demais, meio aquém da maturidade, meio despreparada para governar um país como o Brasil. Preferia antes vê-la candidata a alguma prefeitura, depois a um governo. Tudo bem que o Lula também foi direto para a presidência, mas o Lula é um caso à parte, ele é o cara, como disse o Obama, é um ponto fora da curva, um estadista carismático, nato, concordando ou não com ele ou com os procedimentos do seu partido, isto é inegável, o Lula É um estadista. Já a Marina, posso estar enganado, não me parece desse quilate. Ela sonha um bom Brasil, menos desigual, um Brasil meio Reino de Deus, mas acordada ela pensa em caminhos que levam à queda da produção, do emprego e da renda, e isto decididamente não é o Brasil com o qual ela sonha messianicamente.

    Se bem que na prática, se ela for eleita, certamente terá de fazer pactos de governabilidade, ou não aprovará nada, e nesses pactos é bem possível que o PT e o PMDB tenham muita influência e impeçam o caos. De todo modo, é preocupante. Que ela seja digna de exercer o cargo, não questiono, quero saber se terá competência e um bom projeto.

  5. Marina Silva está sendo usada como míssil político para provocar dissidências e derramar ilusões. O apoio internacional muito escondido que está recebendo e medidas que pretende adotar anunciadas, mostram um retrocessona soberania e economia do Brasil. Marina não tem arcabouço político para lidar com a politicalha, faltando-lhe capacidade para descortinar que o Brasil tem cerca de 200 milhões de habitantes e a maioria não reza pela cartilha dela, principalmente aqueles que conhecem a capacidade entreguista de todos os seus assessores. Os países do G-8 estão muito preocupados com o Plano Nacional de Participação Social, assim como o Brasil passar a ser grande fornecedor de alimentos à Russia que boicotou sua importação da CE e dos EUA.

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