Políticos profissionais

jfrancisconewJoão Francisco Neto

Existe um tipo de político que nunca desiste, mesmo que sofra seguidas derrotas eleitorais. No fundo, o povo os vê com desprezo, tanto que, em linguagem popular, costuma-se dizer que não querem “largar o osso”.  Em geral, só param com a morte. Não é necessário citar o nome de nenhum deles, pois são figuras amplamente conhecidas por todos. Muitos já têm idade avançada e, por conta disso, vale perguntar: por que razão não abandonam de vez a atividade política, para cuidar de si mesmos e de seus interesses particulares?

Muitos desses homens passam um longo período da vida apenas na expectativa de retornar ao poder; outros se remoem, abatidos por seguidas derrotas eleitorais. Alguns, por já terem ocupado altas posições no governo, não conseguem encontrar um lugar confortável para passar o tempo, entre uma eleição e outra. Outros são como almas penadas no limbo, que amargam frustrações, invejando quem está no poder, justamente para onde desejam avidamente retornar. Para esses homens (e mulheres!), a vida se resume ao poder de um cargo político. O povo tem um nome para eles: são os “políticos profissionais”, que em períodos eleitorais reaparecem como fantasmas para a população.

Esses políticos prestariam um grande favor a si próprios, ao povo e ao País se desistissem da ganância sem fim e passassem a exercer outras atividades mais úteis. Em certos casos, nada tendo para fazer, o melhor mesmo seria que ficassem quietos em seu canto, como diziam os antigos. Tal ato de desprendimento funcionaria como uma espécie de autolibertação: se o político não concorrer a mais nada, ficará livre para realmente colaborar com qualquer projeto que seja interessante para a comunidade, sem se importar com atividades partidárias, eleições, loteamento de cargos, captação de fundos de campanha, troca de favores, etc.

Isso abriria oportunidades para a ascensão de jovens talentos, o que favoreceria a oxigenação e a renovação dos quadros políticos. Uma das grandes críticas que se fazem à atividade política é justamente essa: a de que são sempre os mesmos a disputar a eleições. De certa forma esse reclamação procede, pois dificilmente vemos caras novas na cena política. Daí decorre outro problema: se não há renovação, o jovem tende a se afastar da política; e, sem gente nova, também não há idéias novas

Nos Estados Unidos existe um costume político interessante: o candidato derrotado numa eleição presidencial não mais concorre em nova eleição. A idéia subjacente é a seguinte: se a Nação já disse um sonoro “não” a ele, é melhor não insistir. Há outro costume político americano digno de nota: depois de ter exercido o mandato de Presidente da República, o político não deve concorrer em nenhuma outra eleição. Afinal, tendo ocupado o mais alto cargo político do País, a pessoa passa a pertencer à História, e deve, então, procurar uma outra forma de colaborar com a Nação, afastando-se das corridas eleitorais.

É isso aí: políticos calejados, ressentidos, magoados, insistentes, que já ocuparam diversos cargos e mandatos, e que nada mais têm a oferecer, poderiam prestar esse derradeiro serviço à causa pública, poupando-nos de suas caras recauchutadas e discursos desgastados, abrindo espaço e oportunidade para as novas gerações.  Por último, mas não menos importante, convém ressaltar que o ambiente sindical também não está imune às mazelas dessa natureza.

jfrancis@usp.br

* Agente Fiscal de Rendas, mestre e doutor em Direito Financeiro (Faculdade de Direito da USP)

ARTIGOS de JOÃO FRANCISCO NETO

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