A caixa de Pandora

Amadeu Robson Cordeiro

Não sou o tipo da pessoa adepta a lei do Gerson, nem das que aceitam passivamente o ‘deixa a vida me levar’. Nunca gostei das voltas, mesma as que a vida dá, porque, algo me diz que voltar exige pequenas concessões e o “desde que” não deixa de ser uma barganha bem educada, uma censura comportada.

Voltar para situações das quais já nos despedimos, buscando os nossos direitos, é como aconselhar a vida a não promover desafios. Posso estar sendo extravagante, mas, não gosto do voltar quando é remexer, repetir, se render, e em certos casos, cair, trair. Voltar me tira a possibilidade de ir em frente, titubeia as minhas decisões, não me permite avançar e zomba das minhas chances de partir, frente as  minhas convicções.

Temos de ser livres, porque sem liberdade não somos nada. Ou, mais precisamente, não somos mais que marionetes de nós mesmos, sempre querendo o que nem sabemos se queremos.

A liberdade é a chance real de ser livre, independente da barganha. O preso sofre porque sonha com o outro lado da muralha; a alegria de correr lhe parece tão próxima. O peixe se desespera porque contempla a água pertinho, na maré baixa, sem conseguir tocá-la. O passarinho gorjeia seu lamento porque a gaiola vazada expõe os galhos das árvores, que parecem acenar convite para uma longa dança.

Alguns não enxergam as suas forças e voltam, retornam e se submetem ao “desde que”. Assim, padecemos com a falsa felicidade, afastada de uma realidade que teimam em não ver. Nossos desejos pareciam tão próximos, mas sempre são inalcançáveis para poucos. A espera, a luta, à vontade, tudo parecia possível de se concretizar, mas anteciparam de forma inversa o sonho coletivo por uma vitória individual.

O conteúdo do texto é o reflexo do que acontece em todos os seguimentos organizados politicamente, que se desorganizam pela polarização de idéias e conceitos, causando muitas vezes conflitos irreparáveis.

Recordo uma fábula de Rubem Alves. “Certa feita, os urubus tomaram o poder na floresta e impuseram seu estilo de vida a todos os animais. Sua culinária, sua moda, sua estética e mesmo suas preferências musicais tornaram-se o padrão de referência para todos. Os pintassilgos, muito cordatos, esforçavam-se sobremaneira para corresponder às exigências dos urubus. Entretanto, os pobres pintassilgos não conseguiam se acostumar ao cardápio de carniça que deveria substituir sua dieta de frutas, tampouco conseguiam andar e conviver como urubus, reproduzir-lhes os traquejos e os grunhidos, comendo restos babados da corte. Observando os desajeitados pintassilgos, os urubus concluíram sumariamente: Não adianta. Um pintassilgo sempre será um urubu de segunda categoria”. Esta é, em síntese, a volta dos que não foram.

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ARTIGOS de AMADEU CORDEIRO

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