João Francisco Neto*
O mês de outubro não está tão longe assim, e com ele virão as eleições municipais, nas quais serão escolhidos os novos prefeitos e vereadores. Como se já habituou a dizer, será mais uma “festa da democracia”, em que sairemos de casa para votar, cumprindo nosso dever cívico de exercício de cidadania. O primeiro problema nisso tudo é que, sendo o voto obrigatório, muitos eleitores sairão de casa sem nenhum estímulo para o tal exercício de cidadania. Apenas não querem pagar uma multa. Mas, essa espécie de desencanto com a política tem lá as suas motivações. Por exemplo, há muita gente, em geral, políticos e eventuais candidatos, que olha para o prédio de uma prefeitura e só consegue enxergar um cofre e as possibilidades de fazer “bons negócios” para si próprio e para seu grupo político. Outros, vaidosos, alimentam um projeto individualista e vislumbram a possibilidade de entrar para a História do município, ao ocupar o principal cargo político. Na campanha, o discurso de todos resume-se na mesma cantilena de sempre:
estamos aqui para trabalhar para o bem do povo, em prol da saúde, da segurança, da habitação, da educação, etc.
Houve um tempo em que o povo até fingia que acreditava nessas promessas vazias; hoje, nem isso mais ocorre. Agora fazemos de conta que não ouvimos o rosário de promessas políticas que nunca mudam e tampouco se realizam. Dessa forma, a administração do município corre o risco de cair nas mãos de pessoas que não estarão preparadas para o enorme desafio que lhes será oferecido.
Por outro lado, existem candidatos bons, bem intencionados e, sobretudo, honestos, que depois de eleitos fazem péssimas administrações. E por que isso ocorre? Como se sabe, o inferno está de cheio de boas intenções, e para ser um bom administrador não basta ser bem intencionado e honesto: a pessoa tem de estar preparada para o enfrentamento das questões. Há um outro aspecto importante: para uma administração eficiente e realmente voltada para os interesses do município, é necessário que o grupo político que assumir o poder esteja não somente preparado para essa missão, mas, sobretudo, compromissado com ela. O prefeito, sozinho e sem apoio, nada fará.
Outra mazela das eleições municipais é o desvio do foco dos problemas. Explico-me: há candidatos, principalmente nas grandes cidades, que fazem da eleição municipal um mero ensaio (ou trampolim) para as eleições estaduais ou nacionais. Na verdade, esse candidato não quer exercer o cargo de prefeito municipal; o que, de fato, pretende, é tão somente participar de uma disputa eleitoral e assim aumentar o seu cacife para uma eleição futura, que considera mais importante. Como se vê, esse é mais um dos desrespeitos que costumeiramente se cometem contra os eleitores. O Brasil começa pelos municípios, e é justamente nos limites das nossas cidades que temos de dar início a tudo aquilo que queremos para a vida da Nação como um todo: a moralidade (e não o falso moralismo), a honestidade, o trabalho sério, o serviço público que realmente atenda às necessidades da população, a ética na vida pública (e privada, também, por que não?), o respeito ao próximo, a proteção do meio ambiente, o fim da roubalheira e da corrupção. Enfim, se é esse o país que realmente admiramos e tanto queremos, por que razão não começar a construí-lo, nós mesmos, aqui, a partir dos pequenos municípios, independentemente das falsas promessas políticas? O que ocorrer depois, para a Nação inteira, será uma consequência natural dos nossos atos, por aqui.
*João Francisco Neto – Agente Fiscal de Rendas, doutor em Direito Financeiro pela Faculdade de Direito da USP
ARTIGOS de JOÃO FRANCISCO NETO
NOTA DO EDITOR: Os textos dos articulistas não reflete necessariamente a opinião do BLOG do AFR, sendo de única e exclusiva responsabilidade de cada autor.