Francisco das Chagas Barroso
Nesse ano de 2012 ocorreu a 22ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no período recente de 09 a 19 de agosto. Certamente, a grande maioria da população do país e até de São Paulo não ficou sabendo do evento. Essa realidade se deve à conjunção de dois fatores: a falta de interesse dos brasileiros pela leitura e a falta de investimentos dos gestores públicos na área.
Participei deste evento na tarde do dia 15/08, e lá dentro, fiquei encantado e um pouco decepcionado pelo alto preço dos livros. Esperava ver Maurício de Sousa e Ziraldo, mas, por uma questão de horário, eles não estavam lá. Por mais que me esforçasse, por uma questão de tempo, não consegui visitar toda a feira, mas foi muito proveitoso, a despeito da percepção da indiferença e do desprezo dos brasileiros pelo livro.
Só quem gosta de livro sabe, pode fazer, na leitura, um exercício dos seus sentidos. O brilho do olhar do leitor atento às gravuras e à leitura que, por vezes, o remetem ao ato de sonhar acordado. O prazer do tato, em deslizar com as mãos nas curvas e arestas das capas e brochuras bem ou mal acabadas. O leve barulho e o estalar das páginas sendo folheadas. O cheiro envolvente dos volumes novos e o exalar nostálgico das páginas brocadas e amareladas pelo tempo. O livro encanta e inebria aqueles que o apreciam.
Os números da bienal foram razoáveis, dependendo da percepção de quem observa: perto de 1 milhão de visitantes, 480 expositores e investimento de 32 milhões. Entretanto, para os mais exigentes que valorizam a educação e cultura, esses números são risíveis, diante do que eventos dessa natureza poderiam vir a ser.
Estudo da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) referente ao hábito da leitura em 52 países revela que o Brasil ocupa a 47ª posição, bem aquém de outros países em desenvolvimento, como a Rússia e China.
O alto preço das edições é lamentável. Nesse país, ler é lúdico e enriquecedor, mas comprar um livro ainda constitui um desafio.
Apenas 8% da população tem condição econômica suficiente à compra de livros, sem afetar significativamente seu orçamento familiar. Os outros 92% estão absolutamente marginalizados da leitura de livros próprios. A solução, então, seria frequentar bibliotecas públicas.
Estudos apontam que o Brasil tem uma biblioteca pública para cada 33 mil habitantes, e mesmo assim, 90% delas não tem acervo adequado. Segundo o Instituto Pró-livro, 73% dos brasileiros não frequentam bibliotecas.
A França tem 13 vezes mais bibliotecas do que o Brasil.
A realidade é triste, mas uma idéia, apesar de ingênua, seria muito simples e oportuna: os governos, em todas as suas esferas, uma vez que não subsidiam o preço do livro nas livrarias, deveriam pelo menos subsidiá-lo nesses grandes eventos, feiras, semestrais, anuais ou bienais, etc., tornando o livro, senão gratuito, pelo menos, de valor acessível a todos os frequentadores.
A notícia mais desanimadora ainda é saber que nos eventos da copa do mundo de 2014 e Olimpíada de 2016, ambas a serem sediadas no Brasil, o país vai gastar mais de 50 bilhões de reais em recursos públicos. Esses eventos – de cifras estrondosas, desnecessários, supérfluos e carregados de interesses dos ávidos cartolas do esporte – destoam da realidade miserável brasileira e agridem as prioridades mais urgentes do país, como o investimento na educação e cultura.
Uma pequena percentagem dessas cifras já resolveria os problemas de investimentos das feiras de livros, entretanto, do ponto de vista dos nossos governantes, os eventos de livros são supérfluos e a copa do mundo e as olimpíadas são essenciais. Uma absurda inversão de valores.
Ante toda essa realidade que se apresenta, conclui-se que o Brasil, que, historicamente, sempre foi conduzido por gestores públicos corruptos e insensíveis às mais caras necessidades de uma nação – diga-se a educação e cultura, onde está inserida a leitura – caminha na contramão da política de países como a Coréia do Sul e China, que, nas últimas décadas, priorizaram investimentos na área e já estão sentido os resultados positivos.
Mas, quem sabe um dia, numa dessas eleições, o povo brasileiro venha a eleger um Presidente, alguns governadores e outros políticos que amem os livros e que tenham em suas cabeceiras um exemplar de “Dom Quixote de La Mancha”, e, como este atormentado cavaleiro sonhador que atacava moinhos de vento, sonhem, ataquem e transformem a sofrível realidade educacional deste país.
PERFIL e ÍNDICE de ARTIGOS de FRANCISCO DAS CHAGAS BARROSO
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