Neste momento ímpar que passa o Brasil, quero pedir a paciência dos caros leitores do Blog do AFR, para completar a trilogia de artigos sobre a guerreira Marina Silva, que nestas eleições não enfrenta somente a candidata Dilma Roussef. Luta também bravamente contra o desigual tempo de propaganda eleitoral; contra a demolidora máquina do governo; contra a compra de votos institucionalizada do Bolsa Família; contra a infâmia do PT; contra o maior partido do país – PMDB, que não quer largar o osso; contra as grandes construtoras e suas relações inconfessáveis com o governo do PT; contra o capo Lula; contra a mídia chapa branca e outras vozes reacionárias e preconceituosas.
Quando escrevi o artigo anterior – “MARINA SILVA É DIGNA DE GOVERNAR O BRASIL”, de fato, a dignidade a que me referi no artigo, é uma análise mais pessoal, baseada na trajetória política e da vida da candidata.
Agora, quanto à questão de experiência administrativa, é fato que Marina tem farta experiência no Legislativo e pouca no Executivo – foi ministra do meio ambiente no governo Lula.
A experiência é um atributo importante, mas estreito. O cargo de presidente de um país, certamente extrapola os meros conceitos de experiência e eficiência. Ao contrário de prefeitos e governadores, que são mais executivos da ponta, o cargo de presidente, central, com o grande poder que detém, além de eficiente, deve ser mobilizador e, sobretudo, reformador, afinado às necessidades mais caras do povo e da sociedade.
Sabemos que, ante aos recursos que dispõe e às atribuições e competência constitucionais da União, só esta pode, via executivo federal, mudar a realidade do país. Mas para isso – no Brasil são enormes as demandas – é necessário ser além de executor ou gerente, como Dilma. É preciso ter a coragem para impor as mudanças.
FHC teve a coragem, de, contra tudo e todos (inclusive o PT) impor e aprovar o plano real em 1.994 e a Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2.000, tão necessários à estabilidade fiscal e econômica do país. Entretanto, certamente, o preço da reforma foi muito alto, nas negociatas do planalto, no chamado rolo compressor do governo, conduzido, à época, pelo ministro Sérgio Mota – o saudoso Serjão.
Hoje, todos sabemos que a importante reforma previdenciária – Emenda Constitucional nº 41/2003, foi aprovada ao custo do mensalão, no governo Lula.
Mas, e as outras demandas? Mudanças na saúde, educação, segurança e as reformas tributária e política, são os anseios mais caros e desejados pelos brasileiros e são objetos de promessas em todas as eleições. Então porque os presidentes e políticos eleitos nunca resolveram?
A resposta está no fato de que as composições políticas para possibilitar a governabilidade, como vem ocorrendo tradicionalmente, não põem os interesses mais relevantes da nação como prioridades.
Funciona assim: O presidente, ávido em ter maioria no congresso, nomeia ministros corruptos de partidos aliados, já previamente indicados pelos líderes das bancadas. O ministro nomeado, por sua vez, nomeia os cargos em comissão, assessores também corruptos, e assim, por diante. No final, toda a cadeia de cargos importantes da pasta resta contaminada. Essa mesma prática ocorre, embora, em graus variados, nos Estados e municípios.
Nesse ambiente de fisiologismos e corrupção, as instâncias do poder executivo se transformam num balcão de negócios e o presidente fica refém desse jogo político sujo. Portanto, o custo político (e financeiro) para aprovar estas importantes reformas, por esta via tradicional, se revela muito alto e até perigoso, intimidando o chefe do Executivo.
No final das contas, essa prática tradicional é a grande responsável pelas estradas esburacadas, pela falta de saneamento básico, pelo péssimo serviço de saúde pública, onde o cidadão demora 06 meses para realizar um simples exame de ultra-som, enfim, pelos altos tributos pagos, sem retorno satisfatório à população.
Por isso, é necessário quebrar esse ciclo vicioso e nefasto.
É preciso dizer claramente aos cidadãos, que, se os membros do legislativo não atendem aos anseios populares que deviam representar, se comportando apenas como meros “representantes de direito”, então, que se discuta diretamente com o povo essas questões fundamentais. É a mobilização popular que irá pressioná-los. Isso funcionou espontaneamente em junho de 2013.
Como diria Marina Silva, não se trata de substituir o sistema de representação indireta, mas sim, de mobilizar para discutir e pressionar, e dizer: “basta! nos representem de fato!” aos políticos eleitos.
Portanto, acho que a competência nata ou experiência administrativa anterior não são fundamentais para um presidente (ao contrário, podem até trazer vícios agregados) neste momento histórico que vive o país, mas sim, a honestidade, a coragem e a determinação para mobilizar o povo e tentar mudar as coisas e, na parte administrativa, uma composição de ministérios sérios e equipes meritocráticas.
Nesse contexto, observo que Marina Silva, além da dignidade, tem o sangue nos olhos e a alma inquieta, que junto com o momento ímpar, que decorre do apoio da população, poderá vir a mudar o tradicional modo de governar o Brasil.
PERFIL e ÍNDICE de ARTIGOS de FRANCISCO DAS CHAGAS BARROSO
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